heeey apple :B

" (...) Por que no fundo eu sei que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia. "





domingo, 29 de junho de 2014

Ondas, Martes e a Lua.



(Meio triste.)
Uma sala de TV e um abajur ligado, lâmpada amarela, uma lua branca lá fora.
Camuflada no sofá. Agarrando-se a ideia de que paixões são ondas. Que te visitam com intensidade e, assim que se quebram, por motivos que só elas conhecem, se vão. Se vão, para voltar em outras formas, parecidas, mas com diferentes composições. Salgadas por respingos de outras experiências.
É uma onda que sonda muitas praias, com vontade de permanecer, mas incapaz de cumprir sua vontade. Logo é levada pra longe, pelo sopro de uma brisa típica, pelo medo ou pelo inevitável mesmo. Como se o beijo na areia fosse a despedida.
(Ainda triste.)
Uma lua branca lá fora. E Marte tentando protagonizar o céu. Não há espaço para ele. Marte no céu é como a onda, que não dura. Marte, ondas e a paixão: perecíveis. Já que nada flui pra sempre. O romantismo barato do pra sempre. Que história boba foram inventar.
Que ondas só me tragam batidas rápidas no coração. Que a partida delas seja calma como tudo o que me orbita. Sem a violência de adeus ruidosos ou mudos, que esses opostos são sempre desequilíbrios cardíacos. Que venham Martes, distraindo a minha atenção eventualmente. Mas que nunca tirem o brilho dessa lua. De mim. Porque quando Marte se quebra, despedindo, sou a única coisa que sobra. E gosto do que sou, mesmo restando. Surfando em uma galáxia inteira e minha. Sem vai-e-vem. Tranqüila e bonita. Eu olhando estrelas que morrem todos os dias. E mesmo assim consigo sorrir daqui de cima.
(Por que mesmo triste, se a onda que recua, não apaga a lua e cede espaço para novos planetas?)

( Autor: Priscila Nicolielo )

Hannah Georgas - Shine







Is there a place for me?
In your arms?

A Bela e o Burro



Ontem depois que você foi embora confesso que fiquei triste como sempre.
Mas, pela primeira vez, triste por você. Fico me perguntando que outra mulher ouviria os maiores absurdos como você, um homem de 32 anos, planejar ir a uma matinê brega com gente sem assunto no próximo domingo e, ainda assim, não deixar de olhar pra você e ver um homem maravilhoso.
Que outra mulher te veria além da sua casca? Você não entende que eu baixei a música do “Midnight Cowboy” e umas boas do Talking Heads, Vinícius de Morais e do Smiths porque achei divertido te fazer uma massa ouvindo algumas músicas que dão vontade de viver. Uma massa que você não vai comer porque está perdendo o paladar para o que a vida tem de verdadeiro e bom. É tanta comida estragada, plastificada e sem sal, que você está perdendo o paladar para mulheres como eu. E você não sabe como vale a pena gostar de alguém e acordar na casa dessa pessoa e tomar suco de manga lendo notícias malucas no jornal como o cara que acha que é vampiro. Tudo sem vírgula mesmo e, nem por isso, desequilibrado ou antes da hora.
Você não sabe como isso é infinitamente melhor do que acordar com essa ressaca de coisas erradas e vazias. Ou sozinho e desesperado pra que algum amigo reafirme que o seu dia valerá a pena. Ou com alguma garotinha boba que vai namorar sua casca. A casca que você também odeia e usa justamente para testar as pessoas “quem gostar de mim não serve pra mim”.
E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca e seja feliz. E entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz. A gente dá muitas risadas juntos. A gente admira o outro desde o dedinho do pé até onde cada um chegou sozinho. A gente acha que o mundo está maluco e sonha com a praia do Espelho e com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida.
E você me olha com essa carinha banal de “me espera só mais um pouquinho”.Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta. Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem.
Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças. E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. E, quando precisa se sentir especial e amado, é pra mim que você liga. E, quando está longe de casa gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de você. E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa. Eu sei de tudo. E eu passei os últimos anos escrevendo sobre como você era especial e como eu te amava e isso e aquilo. Mas chega disso.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro. E do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu nesses lugares deprê em que procura. E do quanto a sua felicidade sem mim deve ser pouca pra você viver reafirmando o quanto é feliz sem mim e principalmente viver reafirmando isso pra mim. Sabe o quê? Eu vou para a cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de você. Ao invés de estar por aí caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me esquecer. Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração. E não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso. E eu malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem você tanto gosta, mas tenho algo que certamente você não encontra nelas: assunto. Bastante assunto.
Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba. Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos.
Também sou convidada para essas festinhas com gente “wanna be” que você adora.Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser. E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado.

( Autor: Tati Bernardi )

sexta-feira, 27 de junho de 2014

(...) porque me sinto nesse direito de escrever, de reviver, de tentar tornar ficção essa nossa história que tantos dizem conhecer.

Se pelo menos tivéssemos sido corajosos, eu talvez não precisasse reabrir esse capítulo, não precisasse ter que passar os dias em busca da certeza de que você me perdoou e que, independente da brisa que hoje nos faz flutuar por céus de azuis diferentes, você reconhecesse por fim o imenso amor que senti pela ideia de nós dois voltando sempre à cauda daquele chafariz da praça onde um dia, com a aura das lenhas queimando-se nos fornos e nos pátios desconhecidos, você me roubou um beijo com o gosto da tangerina que você descascava com as mãos.

(Autor: Fellipe Fernades )

A Primeira



Que seja doce até tornarmo-nos amargos.
Poderia, nessa idade, viver apenas de memórias. Mas viveria apenas com a dela e com um espaço vazio.
E que forças são essas, que desprendem-me do chão no qual eu mesmo fiz de tudo para ser atado?
Lembro bem. Sentia que estava testemunhando o começo de algo, mas não sabia exatamente o quê. Era alegria sem nem saber. O amor tinha gosto de liberdade e cada palavra era o desprender de um nó. O tempo passava ligeiro, quase despercebido.
Antes, meu destino era qualquer um, e eu ia e vinha como se não saísse do lugar. Ela, mesmo sem querer, foi meu senso de orientação. E, ao mesmo tempo, foi minha tontura. Minha perda de consciência escolhida a dedo pelo coração.
Eu te conheci em uma vida que quis ter.
Sabe qual é a forma ideal de amor? Deixa. Eu mesmo respondo. É amar as estações da pessoa. Eu a amei desde as flores brotando até as folhas secas caindo. Amei seu amor errado. E cheio de certezas. Ela sempre olhava-me torto, quase que desconfiada. Era inimiga e aliada. A tênue linha de seus lábios era metáfora que separava o amor do ódio.
Disfuncional.
Vimos várias chances de regressos e retornos, mas deixamos que ficasse da forma como tinha ido embora.
Não há tempo para reconstruir-se. Apenas para interditar-se.
Ela será, eternamente, uma forma sossegada do passado.


Escrevo com a intenção e com a coragem de abandonar a poesia em mim para enxergá-la no mundo, novamente. Entenda. É justamente porque tu foste capaz de fazer-me feliz, que hoje, faz-me triste.

( Autor: Fernanda Novaes )